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Chaminés no Engenho Mucuripe |
Já fazia algum tempo que não saía com o objetivo específico de fotografar, nas chamadas Expedições Fotográficas. Não foi a falta de oportunidades, mas sempre que surgiam, algum compromisso nos impedia de participar. São momentos ótimos para trocar idéias e aprender com as dicas dos participantes.
No dia último dia de maio, porém, embarquei com a (sempre) animada e competente turma, coordenada pelo Professor e Fotógrafo Célio Ricardo. O “alvo” foi o município de Ceará-Mirim, distante apenas 28 km de Natal e as principais atrações foram as ruínas dos engenhos de açúcar do século XIX.
O município foi um importante produtor de açúcar, com mais de 100 engenhos construídos a partir de 1840. Apesar da início relativamente tardio, se comparado com municípios que produziam e exportavam já no século XVII, Ceará-Mirim firmou-se como um importante pólo açucareiro.
Como acontece nos ciclos econômicos, a riqueza trouxe a ascensão daqueles que detinham a terra e os meios de produção, que ganhavam prestígio político e social, demonstrado – inclusive – pelo tamanho e imponência de suas casas.
A história foi apresentada ao grupo pelo guia Francisco Ferreira, que faz a apresentação do município interpretando Manoel Varella do Nascimento, o Barão de Ceará-Mirim. Ele e sua esposa, com trajes de época, tornam o passeio bem mais interessante, contando causos e fazendo algumas encenações.
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O Barão e a Baronesa posam na sacada de "sua" casa de veraneio - a Casa Grande do Engenho Guaporé |
Fotos
Começamos pela sede do Município, percorrendo as ruas quase sem movimento no domingo de manhã. Ouvíamos os detalhes do passado, mas rapidamente o grupo mirava suas objetivas para captar cores e formas no casario urbano.
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Mercado público, construído em 1881 |
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Casa em Ceará-Mirim |
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Mas, é na zona rural que a arquitetura nos permite vislumbrar a riqueza de outrora. O poderio dos senhores de engenho trazia azulejos de Portugal, máquinas da Inglaterra e (à custa do trabalho escravo) produzia riquezas com cultivo da cana-de-açúcar.
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Capela, que já foi uma sinagoga do Engenho Cruzeiro, pertencente a Samuel Bolshaw |
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Casa Grande do Engenho Guaporé, também usada como casa de veraneio do Barão de Ceará-Mirim |
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Atualmente o prédio pertence à Fundação José Augusto e foi denominado Museu Nilo Pereira, mas não tem nada em seu interior, em precárias condições |
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Ruínas do Engenho Cruzeiro |
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Forma para rapadura no Engenho Mucuripe |
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Engrenagens abandonadas |
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"O velho engenho lá ficou, desmanchando-se pedra por pedra. Os maquinismos foram vendidos ou enferrujam, na sepultura das moitas, enquanto a erva cresce, silenciosa, afogando os alpendres, cobrindo como um sudário implacável, a bagaceira morta"
Edgar Barbosa
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Engenho Verde Nasce |
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As ruínas emolduram o verde |
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E ainda resistem |
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Entardecer traz o dourado para as ruínas da Usina Ilha Bela |
Decepção
Fiquei muito impressionado com o descaso do Poder Público em relação à chamada
Rota dos Engenhos. Sem nenhuma preservação, as ruínas são tomadas pelo mato e ficam sujeitas à ação de vândalos. A deterioração é visível e causa tristeza. Sob certos aspectos, chegar perto dos edifícios é um risco à segurança dos visitantes.
É difícil aceitar como o Município e o Estado deixam isso acontecer. Não fosse pela preservação da memória – por si só, algo muito importante – os sítios históricos poderiam fomentar negócios associados ao turismo, principalmente nos segmentos rural, pedagógico e histórico. Uma pena.
“Um país sem memória perde a sua identidade e, deixando de saber quem foi, dificilmente saberá que é e o que vai ser”
José Jorge Letria
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Turma da Expedição Fotográfica Foto de Célio Ricardo |
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