terça-feira, 11 de agosto de 2015

‘Vale’ espera retomada, mas caminho é incerto



A Usina São Francisco/Ecoenergia chegou a empregar 2 mil trabalhadores, mas parou a produçãoA agricultura do Vale de Ceará-Mirim, uma das mais tradicionais e que possui os engenhos de cana mais antigos do Estado, encolheu em produção e empregos, com uma migração pequena dos trabalhadores para outros segmentos econômicos, como o da construção civil. Sob este cenário, o setor rural da região aguarda sem muitas esperanças a retomada da atividade canavieira, na esteira de uma possível revitalização por meio de cooperativas, uma discussão incerta e ainda em desenvolvimento. 
De acordo com Renato Lima, presidente da Associação dos Plantadores de Cana do Rio Grande do Norte (Asplan/RN), caso a capacidade instalada de produção das duas usinas da região – Agropaulo e São Francisco/Ecoenergia - estivessem a pleno vapor, o montante moído no Estado, junto ao estabelecido na Estivas, em Arês, e na Vale Verde, em Baía Formosa, seriam suficientes para ultrapassar a atual atividade canavieira da Paraíba, a 3ª maior do segmento no Nordeste.

“A realidade está bem aquém da capacidade instalada na região, isto é fato. Ela teria estrutura para produzir até 800 mil toneladas por safra, mas, hoje, não se ultrapassa 250 mil toneladas. Na região Sul do Estado, com a Estivas e a Vale Verde, temos 3,5 milhões de toneladas de capacidade, mas, também, produzimos aquém, com uma média de 2,5 à 2,7 milhões de toneladas por safra. Se estivessem em pleno funcionamento, com certeza passaria a produção vizinha”, comentou Renato Lima. 

Usina
Para atingir a capacidade canavieira instalada no Rio Grande do Norte, contudo, não basta apenas intenção de produzir. Atualmente, a São Francisco/Ecoenergia encontra-se desativada, sem qualquer tipo de atividade, seja para manutenção quanto para a produção. Em imbróglio judicial desde 2009 e processo tramitando em segredo de Justiça, a usina parou de produzir, deixando mais de 2 mil trabalhadores desempregados, tendo que buscar empregos em outros setores da economia. 

“A usina tinha mais de 2 mil trabalhadores na safra e uns 600 na entressafra. Hoje, 50% desse pessoal está parado, porque não sabem fazer outra coisa da vida e não encontram oportunidades. E, os que conseguiram algo, foram para a construção civil, que também já não emprega da mesma maneira. Dependemos da reabertura da usina para que Ceará-Mirim possa recuperar o brilho que perdeu há seis anos”, declarou José Maria Alves, ex-presidente e atual tesoureiro do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Município. Segundo ele, demoraria dois anos para “reformar” a terra para plantio.

Com projeto espelhado em solução aplicada em Pernambuco, um grupo – formado pela Asplan/RN e outras entidades do setor no Nordeste - estuda a viabilidade de unir, através de um cooperativa, pequenos e médios produtores aos assentamentos da região, para assumir a produção da usina. Para isso, segundo Renato Lima, uma proposta de ação está sendo construída, para ser apresentada à Assembleia Legislativa em audiência pública, ainda sem data definida, e, no futuro, ser encaminhado também à Justiça Potiguar, como solução interina para a disputa judicial entre o antigo proprietário – Geraldo Melo - e o atual – Manoel Dias Branco Neto. 

Procurados pela reportagem ao longo desta semana, apenas Geraldo Melo (ex-senador e ex-governador do Estado) atendeu ao contato. De acordo com ele, o processo não chegou em fase de execução e ainda corre na Justiça Potiguar, sem previsão para novo encaminhamento. Sobre a possibilidade de uma cooperativa assumir a produção, Melo se mostrou incrédulo, não acreditando ser aplicável. 
TN

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